terça-feira, março 01, 2005

mar de meu tempo

No barco, as marcas do tempo trazem de volta as memórias do mestre com quem aprendi a pescar. A saudade aperta, mas não há sequer tempo para viagens nas memórias. Lá, ao longe no mar, a dor crava-se na proa e arrasta-se, devagar. No mar só há um tempo. Esse tempo é um pássaro que voa livre e despreocupado e que permanece imperturbável, sem nos atribuir importância, pois para ele nós somos completamente indiferentes. O seu caminho continua o mesmo, numa viagem que não tem fim. Se nós nos esquecemos dele, ele continua a sua viagem e nós ficamos, por vezes sós, por vezes velhos, por vezes prisioneiros. O tempo dizima-nos, assim como o mar. Da faina sobra um vago cheiro conhecido, o do suor. Corpo que sofre perigos vários e nunca se pode negar. Resta-me o regresso apressado, pois curtas horas me sobram. Nesse instante apercebi-me que o tempo já não contava, que a minha felicidade interior era mais forte que a sua caminhada imparável. Por mais que o tempo corresse não conseguia transportar-me com ele. Eis-me chegado a terra...por fim, posso descansar.

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