Campos Magnéticos

quinta-feira, fevereiro 07, 2008

segunda hipótese

Eu podia talvez falar com as couves ou mesmo com os mosquitos. Inclinar-me-ia mais para a segunda hipótese.

Matias

Matias tinha uma fixação. De cada vez que entrava no mictório, abria a carcela e retirava o falo como quem pega no bem mais precioso do mundo. Começava então a urinar, num jacto de potência , e tentava acertar com o cuspo no jacto de urina que se lhe escapava.

domingo, abril 23, 2006

onírico



(Paulo Pinto, 2004)

primeira palavra

Palavra...palavra que não sabia e tentava aprender. De cinco sons seguidos não se extraía uma sequer. Era algo que estava a nascer de forma desconexa. Aqui e ali um som que, se somado ao do dia anterior, e ao do dia anterior, e recuando um bom par de dias, podia formar várias palavras, fossem elas mamá ou papá. Por esses dias a palavra era vigiada, como eu. Tão tenro de vida e de palavras, pensava eu em algo que não me lembro. Ainda hoje não me lembro da minha primeira palavra. Ainda hoje não disse a minha primeira palavra.

quarta-feira, abril 19, 2006

florença

Lá não é preciso ar para vivermos, apenas basta respirarmos bem devagar e beber cada gota de água da chuva como se fosse a última. Lá não existe o medo em forma de luz, apenas a serenidade em forma de sombra. Foi lá que te vi dentro de mim em pontos unidos, de uma luz fraca e ténue que, dia após dia, hora após hora, ganhava intensidade e fazia tremer a minha mão. Quando tremia não podia escrever o que sentia, mas podia beber a última gota de água da chuva desse dia. E, dia após dia, mês após mês, lembrava-me sempre da Florença que eu amava, dentro de mim.

segunda-feira, janeiro 09, 2006

por vezes ouço vozes

por vezes ouço vozes que me chamam. olho em redor e nada vejo, só as vozes parecem existir, sem corpo, desconcertantes e frias. ferem a minha triste existência, torturam-na. as vozes, em uníssono, avançam para mim. só há espaço para um de nós. vou ceder, como sempre cedi. parece-me inevitável. as vozes acabarão por ganhar. só ou acompanhado, as vozes far-se-íam sempre ouvir.

Paulo Pinto, 2006

domingo, julho 24, 2005

jardim do desejo



(Paulo Pinto, 2005)

o que somos e quem somos não depende de nós, depende dos outros. por nós, seríamos sempre os mais puros, amigos e honestos dos homens. mas, pelos outros, poderemos talvez ser outra coisa qualquer, longe da nossa realidade, mas perto da realidade de cada um deles. os outros. aqueles que nos julgam e nos imaginam monstros ou fadas, doces ou agrestes. no jardim do desejo eu gostava de ser aos olhos dos outros o que sou aos meus, mas estaria a ser castrador. o que eu serei, será sempre o que os outros pensarão de mim, por muito que me incomode. os meus medos são só meus, assim como o que eu penso de mim é só meu. no jardim do desejo desejo-te e quero-te e quero-te só para mim.

sexta-feira, março 11, 2005

Epígrafes

O sonho reaproveita "restos" do quotidiano. (Freud)

quarta-feira, março 09, 2005

Campo Magnético



(Paulo Pinto, 2004)

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