domingo, abril 23, 2006

onírico



(Paulo Pinto, 2004)

primeira palavra

Palavra...palavra que não sabia e tentava aprender. De cinco sons seguidos não se extraía uma sequer. Era algo que estava a nascer de forma desconexa. Aqui e ali um som que, se somado ao do dia anterior, e ao do dia anterior, e recuando um bom par de dias, podia formar várias palavras, fossem elas mamá ou papá. Por esses dias a palavra era vigiada, como eu. Tão tenro de vida e de palavras, pensava eu em algo que não me lembro. Ainda hoje não me lembro da minha primeira palavra. Ainda hoje não disse a minha primeira palavra.

quarta-feira, abril 19, 2006

florença

Lá não é preciso ar para vivermos, apenas basta respirarmos bem devagar e beber cada gota de água da chuva como se fosse a última. Lá não existe o medo em forma de luz, apenas a serenidade em forma de sombra. Foi lá que te vi dentro de mim em pontos unidos, de uma luz fraca e ténue que, dia após dia, hora após hora, ganhava intensidade e fazia tremer a minha mão. Quando tremia não podia escrever o que sentia, mas podia beber a última gota de água da chuva desse dia. E, dia após dia, mês após mês, lembrava-me sempre da Florença que eu amava, dentro de mim.

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